David Duchovny: Eu Vejo Vocês Lá Fora

Sunday, April 03, 2005

Eu Vejo Vocês Lá Fora

Oi de novo. Eu tentei postar um audioblog mas alguma coisa deu errado*, então nós estamos trabalhando nisso. "Postar", como se eu fosse um músico ou algo do tipo. Tivemos exibições maravilhosas em Seattle, San Francisco, San Diego e Los Angeles. A resposta ao filme tem sido impressionante para mim pessoalmente, ver como as pessoas apreciam esse tipo de filme e narrativa, e as perguntas provocativas que são feitas, e todas as risadas durante as sessões de perguntas e respostas. Viajar desse jeito é difícil e eu não acho que um dia vá conseguir digerir todos os amendoins torrados com mel que andei comendo, mas a troca de idéias com um público ao vivo faz com que tudo valha a pena. Tendo feito o filme, eu tenho uma visão de dentro pra fora, mas à medida que eu começo a enxergar o filme da perspectiva do público, eu realmente aprendo sobre ele de um modo que torna tudo novo para mim --- eu estava dando uma entrevista numa rádio para um jornal de faculdade em San Francisco, e o jovem repórter me fez uma pergunta tão fantástica que eu a incluí no meu repertório. Ele disse, é evidente que o menino de doze anos no filme deve se rebelar e fugir de modo a se tornar um homem longe da segurança da infância (bem, eu sabia disso), mas então ele comentou que o homem de 43 anos (meu papel no filme), de modo a se tornar um homem maduro, deve RETORNAR à família (ou sociedade). Um retorno. Uma simetria onde a definição do que é um homem adulto na verdade se torna o seu oposto, ao decorrer de uma vida. (eu não tinha pensado nisso) mas é bom. Muito bom. Definições diferentes do que significa ser um adulto que muda e flui à medida que o tempo muda e flui. Eu contei à minha esposa e ela disse --- eu sabia disso. Eu perguntei como. Ela disse, porque eu conheço você. Alguns de vocês blogueiros têm se identificado para mim nas exibições e tem sido muito bom encontrar vocês. Dar um rosto, ou rostos, à muitidão de vozes lá fora. O que eu estou esperando ansiosamente, em especial, é que agora que alguns de vocês estão vendo o filme, nós podemos começar a discuti-lo aqui, ao invés de eu ficar tagarelando sobre como vocês precisam ir ver o filme e como vocês vão adorar o filme, nós podemos realmente começar a ter um diálogo sobre algo específico ao invés de eu sentar aqui num vácuo repetindo blá, blá, blá, house of d house of d house of d. Eu já mencionei que vocês vão ter que pagar para ver o filme no fim de semana de estréia (estou brincando) (mais ou menos) Fizemos uma exibição com uma sessão de perguntas e respostas com Anton Yelchin ontem à noite. É sempre bom vê-lo. Ele é tão esperto e articulado e divertido. Eu espero que ele tenha a chance de aparecer em alguns programas de entrevistas - ele é tão seguro de si e honesto. O sentimento no filme tem sido muito apreciado. É um filme sentimental, e eu falo sobre isso com frequência. É um assunto assustador para um cara que está prestes a lançar um filme, porque aqui no mundo dos negócios em Hollywood, as pessoas nos dizem, e eu posso ver isso pela atitude e pela atmosfera do modo em que estamos vivendo agora, que sentimentos, e sensibilidade sem pieguice, schmaltz ou bathos*, devem ser evitados, não dão bilheteria, não atraem os garotos para os cinemas. A idéia predominante é de que garotos não querem sentir. Bem, parte da inspiração para este filme foi contar uma estória sobre como um homem aprende a sentir e a moral de ser um homem (ou mulher) que sente. Nós vivemos em um tempo de desconfiança e cinismo, e há uma boa razão para isto, mas filmes são uma válvula de escape e às vezes um reflexo do mundo como ele é, e às vezes um reflexo do mundo como gostaríamos que ele fosse. Eu quis fazer um filme que lidasse honestamente com as verdades difíceis do crescimento, que visse o humor ilimitado nisso, e então a infinita tristeza do tempo que passa. É um filme para homems e mulheres. É um filme para um encontro romântico. É um filme que vocês vêem com seus pais. Com seus filhos. É sentimental. Tem sentimento. Isto não é um insulto. Imaturo. Insensível. Sarcástico. Depreciativo. Estas palavras são insultos. Eu vou ser atacado pelo sentimento. Vou aceitar os ataques com alegria. Basta, basta, basta, estou começando a irritar a mim mesmo. A imprensa está começando a tomar conhecimento deste blog. Está se tornando um fenômeno. Isto é porque estamos sob o radar aqui. Estamos fazendo tudo sozinhos. E não custa dinheiro, apenas sentimento. Por isso, eu agradeço a vocês. Até mais tarde --- DD

*Nota da Tradutora:

1. snafu - situation normal totally fucked up, ou "uma situação normal totalmente f*****.

2. Bathos - palavra grega para "profundidade". Em inglês, é geralmente usada para definir tipos de arte que parecem ridículos ou piegas.
Schmaltz - palavra judaica que expressa excessiva sentimentalidade na arte ou na música.